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Ásanas devem ser Firmes e Confortaveis - Sthira Sukham Asanam

Sthira Sukham Asanam
Por Ciro Ricardo

O quadragésimo sexto aforismo do Sadhana Pada do Yoga Sutra de Patanjali não deixa dúvidas - asana, ou seja, o assento, deve ser firme (sthira) e confortável (sukham). Encontrando-se em qualquer um deles, seja em um simples paschimottanasana ou em qualquer outro considerado mais delicado, como o setubandhasana, a atitude interna de um praticante consciente deve ser sempre a mesma: conforto e estabilidade.

Não é segredo à quase ninguém que o objetivo das práticas de yoga consiste em levar seu praticante ao estado sutil de meditação, e através dela atingir níveis cada vez mais intensos e profundos de samadih, libertação ou mesmo união à energia etérea. Porém, para se conseguir êxito em meditação é necessário ficar por um longo tempo, muitas vezes horas, numa postura imóvel. Mas quando um iniciante senta para meditar ele logo percebe a dificuldade em permanecer quieto. Dores musculares, agitação mental, ansiedade, são apenas alguns dos obstáculos encontrados. A tradição do Yoga afirma que esses obstáculos advêm de toxinas acumuladas no corpo físico, emocional e mental – toxinas adquiridas pela alimentação errada, por pensamentos e atitudes pouco construtivas.

Então como conseguir um corpo estável e tranqüilo? O Hatha Yoga surgiu como um método para solucionar este problema. Trabalhando corpo e mente em diversas posturas, e desta forma limpando o organismo de impurezas, com o tempo fica fácil sentar e meditar com propriedade. Swami Satchidananda comenta: “A fim de conseguirmos tal postura meditativa, podemos exercitar muitas poses culturalmente adotadas como preliminares. Eis por que foi criado o Hatha Yoga” (Yoga Sutra, p.156).

Desta forma, não importa muito a modalidade ou estilo de Hatha Yoga que o praticante escolheu como sua prática pessoal. Seja ele baseado em seqüências intensas de asana como o Ashtanga Vinyasa e Power Yoga, ou mesmo outras práticas com menos intensidade e longas permanências, o objetivo será sempre o mesmo: preparar o corpo para os próximos membros do Ashtanga Yoga descrito por Patanjali. Com o corpo flexível livre de toxinas, com a mente focada livre de grandes vacilações, tem-se o domínio da postura, do assento, e assim se estará pronto para experimentar os benefícios da concentração intensa e depois da meditação propriamente dita, adquirindo-se desta maneira uma atitude firme, livre das confusões geradas por dualidades. Em seu comentário, Desikachar afirma: “Práticas como a de asana começam a corrigir as consequências prejudiciais dos obstáculos no nível do corpo. O bem-estar assim desenvolvido nos abre para a possibilidade de uma maior compreensão sobre nós mesmos” (O Coração do Yoga p.264/265).

Asana não é um fim em si mesmo. As posturas do Yoga, tão difundidas por sua beleza plástica, não fazem parte de um sistema de ginástica indiano, ou de algum tipo de campeonato de alongamento. Fazem sim, parte de um sistema milenar passado de mestre para discípulo que visa levar seu aspirante a estados de consciência mais requintados, tornando-o tranqüilo, disciplinado e, finalmente, impávido.

Florianópolis, 25 de abril de 2008.


Ciro Ricardo é professor de Ashtanga Vinyasa Yoga no Yogashala

www.yogashala.com.br


 

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